UM ANO SEM VOCÊ, SAMARAH

Postado por Simon Valadarez | | Posted On domingo, 15 de março de 2009 at 01:17

Às vezes lembranças doloridas dormem e acordam comigo como se tudo tivesse acontecido ontem ... e é preciso força pra vencer um único dia cinza que volta de repente e insiste em durar... Às vezes também lembranças boas surgem num som, num gesto ou num sorriso parecido de um rosto que vejo... Nesses dias o sol e o céu recuperam a cor por fora, as lágrimas se esconden longe, distantes, como o eco do fim da chuva de verão que respinga em uma gruta vazia onde o inverno decidiu morar... .






ABAIXO O TEXTO QUE ESCREVI NO DIA 14 DE MARÇO DE 2008 - UM DIA DE LUTO.

Quando o Jardineiro apanhou de súbito uma das mais belas flores do nosso jardim,
indignados e espantados questionamos para onde Ele a levaria e porque a tirou de nós.
Em meio à comoção, a resposta soprou suave aos corações dos que puderam ouvir:
“Obrigado servos por terem cuidado bem e feito o melhor que podiam pela minha flor que confiei a vocês durante um tempo”.

Hoje, dia 14 de março morreu minha irmã mais nova, Samarah.
Aos 23 anos, ela sonhava em ser bióloga e amava plantas, flores e animais.
Embora também amasse as pessoas, confiou a poucas e privilegiadas vidas os segredos do lado mais belo de sua personalidade tímida e introvertida.
A pureza e a força com que ela viveu conosco tornou-a a mais bela e resistente flor que havia no jardim. No entanto de súbito foi arrancada da paisagem que vislumbrávamos à nossa frente.
Assim vimos sua luta de 23 dias na UTI passar como um drama aparentemente triste embora jamais possa ser comparado ao grande e maior testemunho de quem viveu sem se contagiar pelas maldades do mundo.
A Samarah viveu com o coração de criança e a coragem de uma guerreira capaz de constranger o mais forte dos heróis. Eu fui um de seus heróis.
Hoje, ao fim da etapa aqui conosco, a breve porém grande história da minha pequena irmã me constrange a ser melhor e maior diante da vida e diante de Deus que a dá.
Sua história foi breve se comparada à eternidade que Ele preparou para os que crêem nele. Ela sempre creu e confiou.
Sua história foi gigante por tamanha fé e coragem ao dizer sim para a vida e para os seus sonhos.
Pequena pela fragilidade que insistíamos em atribuir à caçula que revelou-se maior e mais forte do que suas próprias limitações.
Sei que fui um de seus heróis não porque em mim mesmo houvesse todas as virtudes de um super-herói, mas sim porque para alguém com o coração simples como o dela até mesmo pequenas qualidades transformam vidas comuns em fontes de inspiração e força.
Assim, em vida, com seu olhar infantil ou na morte com seu testemunho de fé, a Samarah imprimiu em nós marcas tão profundas quanto a saudade que ficará.
Especialmente nos últimos dias ela forjou de nós heróis verdadeiros: tios e tias, primos, amigos, irmãos de fé, Sarah, minha mãe e meu pai - pessoas comuns diante da certeza inegável de que a vida também nos reserva a separação, enquanto a fé e o amor nos revelam especiais em cada atitude, cada prece, cada abraço, cada lágrima, cada sorriso ... tudo o que nos faz vencer juntos com Deus e em Deus.
Que privilégio o meu!
Que privilégio o nosso de o próprio Autor da Vida ter nos concedido 23 anos com ela como família que continuamos sendo! 23 anos ao lado de um ser humano que se tornou hoje mais uma flor no Jardim de Deus. E pra nós um testemunho do encontro entre a força e a beleza, o amor e a ingenuidade em uma mulher corajosa que será pra sempre nossa bebê caçula.
Hoje, nos braços do Pai.

(Simon Valadarez)

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